04 abril, 2008

Baião de dois.

Eles saíram do nordeste para tentar a vida na cidade grande. Por lá, esse é um sonho coletivo. Mas poucos têm a chance de realmente projetar um futuro promissor. Constituem família muito cedo, e tornam mais remotas as possibilidades. Jovens, resolveram brincar de ser gente grande. Já não tinham medo de viver um faz-de-conta fora de seu quintal. E foi assim o início de uma infinita jornada, que precisa atravessar ainda muitas fronteiras. Diferente dos livros, aqui não tem herói, ou bandido. Os protagonistas são um por todos.

Enfrentaram horas de estrada, até descer foram léguas de distância. A expectativa era o maior sentimento que habitava seus corações durante a caminhada ao mundo novo. Cheios de planos, nem imaginavam que o destino lhes preparava surpresas. Foi difícil se adaptar aquela poltrona. Ao mexe-mexe do jaú, era dormir e acordar daí a pouco dormir novamente. Até que, exclamando por "terra à vista!", a vida lhes presenteia com o que há de mais surpreendente, a natureza em sua plena forma. Os retirantes, acostumados à areia seca e vermelha, se encantam pelo verde exposto a todo canto. Agora começa a realidade, se lhes antes parecia tudo um sonho, a de vir pela frente horas de procura incansável pelo sustento de ambos.

O teto, que se faz primordial nessa nova jornada, lhes é garantido pelo parentesco, e aconchegantemente se acomodam nesse espaço reservado, entre malas, mochilas, mantas e instrumentos, seja corda, seja lápis, seja voz. E depois do descanso casual, foram acertar a linguagem, trataram logo de reconhecer o terreno. A conversa afinada entre os retirantes e os doutores foi logo se entrelaçando, e como um passe de mágica, sentiram-se em casa. Contatos feitos com a terra natal, a saudade bateu e doeu. Mas a força extra de um pelo outro os tornaram bem firmes e cada vez mais sólidos no propósito de recomeçar. É como se tivessem zerado o marcador de suas vidas.

Todos os dias ao acordar, uma nova reza, um novo pedido. E numa caminhada incerta, a oportunidade. Que se faz presente a todo o momento. Mas junto dela, vem a duvida acompanhada de outra faceta. Como se de joelhos pedindo aos céus para iluminar, a dupla resolve por bem se separar. Cada um com seu propósito precisam de tempo para refletir as novas propostas. As portas se abrem para um deles, que resolve correr de encontro ao grande sonho.

A retirante fica assim, sem o irmão, mas com a fé de São Jorge, que ele mesmo deixou para ela. Embora sem saber. E os dois pedem a Deus, nosso Senhor, que não os corte o cordão umbilical que os une pela vida, pela morte, e por todo sempre.

Agora a trilha sonora dos dois é uma só, cantada por Chico Buarque, o senhor da guerra, que faz a vida desses dois acertar um tom, cantar um som. Amém.

Será que Cristina volta, será que fica por lá
Será que ela não se importa de bater na porta pra me consolar
Noite dia me pergunto, meu assunto é perguntar
Será que Cristina volta, sei lá se ela quer voltar

Será que Cristina volta, será que fica por lá
Cheio de saudades suas procuro nas ruas quem saiba informar
Uns sorrindo fazem pouco, outros me tomam por louco
Outros passam tão depressa que não podem me escutar

Será que Cristina volta, será que ela vai gostar
Será que nas horas mais frias das noites vazias não pensa em voltar?
Será que vem ansiosa, será que vem devagar
Será que Cristina volta, será que Cristina fica por lá...

4 comentários:

Brunna Monteiro disse...

"Marrapaiz", nesse tempo todo que te conheço, nunca havia lido um texto seu, por incrível que pareça. Mesmo assim, não é de se surpreender, mas de se orgulhar. Eu sempre soube que você tem o dom pra coisa, mas não isso tudo! Quanta sensibilidade, cautela com as palavras que, sutis, tem o "quê" de "Rê". Ah, se o Chico lêsse... Aposto que não deixaria passar batido! Parabéns Renatinha, Renascida, Anjo, AMIGA! Que vontade de gritar pra todo mundo ouvir. :)

Anônimo disse...

Ai amiga, q saudade!Q saudade de "ler vc", suas ideias..Ainda bem q voltou com este cantinho.Adorei o texto..Espero q o destino dos irmaos volte a se cruzar.rs O q tenho certeza q vai acontecer!!
Parabéns!!!Ficou muito bom msm!!
Te amo!!!!

Van disse...

cristina tenta a vida, e sua irmã que é meio aflita não pode pestanejar,
cristina é louca varrida, carrega na mala sua vida e não para pra descansar
cristina é meio atrevida, sua irmã intertida nem percebe que ela vai voltar
as vezes em volta as palavras, guias, cruzes rezas e sons, as vzs pensa que certa e que pode acertar o tom
cristina sorri meio torto e num sucumbir meio morto se entrega de novo ao seu sons
um samba que rola batido, com um cantar tão sofrido arranca lágrimas de uns 10 corações
mas oque ninguém acredita é que cristina atrevida já sabe fazer o seu chão,
sua irmã que duvida agora tem dor de barriga esperando Cristina e a razão.
fica cristina, ela foi. Volta cristina e ela vem, cheia de sonho e emoção.


wesley faria. em resposta a nossa jornada descrita pela renatuça!!

t amo maninha!

Anônimo disse...

O comentário do Wesley é mesmo a cara dele: continua a história.

Mas vamos lá:

Bonita mesmo, Renata, como todos já disseram aqui e cheia de sensibilidade.
A vida não é mesmo assim? Quem sabe onde e como termina?
A Brunna não sabe é que você conversa com o Chico, com Graciliano Ramos, com Guimarães e com todos outros
mil beijos
Parabéns!